ARTIGO | Sustentabilidade empresarial – Gestão da sobrevivência

Muitas vezes se tem a impressão de que a fila não anda no tema da  sustentabilidade no Brasil. De fato há muita publicidade por parte das  empresas e na maioria das vezes assistimos ao que se chama  ‘greenwashing’, ou seja, maquiagem ambiental. Ao invés de se  entender que sustentabilidade no mundo empresarial passou a ser  requisito de sobrevivência para as empresas e o próprio planeta, muita  gente age como se bastasse despender recursos em belíssimas  propagandas, sendo o assunto matéria do departamento de marketing  ou comunicação.

Estamos cansados de ouvir coisas como sustentabilidade empresarial;  responsabilidade social, preservação do meio ambiente e reciclagem  de resíduos e materiais. Também está certo de que muitas empresas propagam que seguem esses conceitos apenas como forma de garantirem uma boa imagem mercadológica para seus produtos e serviços.

É possível comprar produtos eletrônicos com bom desempenho energético? Como adquirir computadores e aparelhos celulares que não venham comprometer o meio ambiente com seus metais pesados? Para produzir sabonetes e shampoos é viável adquirir matéria prima que respeite a dignidade dos animais no momento do seu abate?

Hoje o público consumidor se preocupa muito mais com a forma como os produtos são produzidos e os perigos inerentes para o meio ambiente do que num passado próximo. A realidade nem chega perto da que podemos prever (sem qualquer dúvida) que no futuro será ainda muito mais difícil para uma empresa superar o estigma de ser poluidora ou de não levar em consideração uma preocupação séria com o meio ambiente. A empresa que não for sustentável verdadeiramente; tenderá a desaparecer pela própria “seleção natural” do mercado.

Mas, se depender da publicidade das grandes empresas, não haveria como negar que hoje todos são sustentáveis: bancos, mineradoras, montadoras, enfim, o planeta estaria fora de perigo pois sustentabilidade se tornou algo intrínseco aos negócios. Será verdade?

Em partes, sim, pelo fato de que a sociedade hoje está exigindo dos governos e das empresas respostas claras às demandas de sustentabilidade, com ênfase nos aspectos sócio-ambientais. Por esta razão tanta propaganda. Por outro lado, há que se separar o joio do trigo, ou seja, criar mecanismos que assegurem efetivamente a incorporação da sustentabilidade no mundo empresarial, evitando assim que se esvazie o conteúdo efetivo da sustentabilidade, que traz uma mudança radical no papel das empresas diante da sociedade. Não é suficiente gerar lucros para os acionistas e investidores de maneira geral, mas enfrentar problemas do mundo contemporâneo como o aquecimento global, esgotamento dos recursos naturais, desigualdade social.

As empresas precisam internalizar a dimensão da sustentabilidade em suas atividades, com perspectiva de médio e longo prazo, compreendendo que devem exercer um papel absolutamente estratégico nos temas acima mencionados. Um bom exemplo de como operacionalizar tal dimensão em seus negócios pode ser visto quando as empresas criam critérios de sustentabilidade para aquisição de seus bens e serviços, criando uma cultura nova que atinge toda a cadeia produtiva, assegurando com isso que o consumidor possa exercer uma escolha adequada em termos de seus próprios valores no seu cotidiano.

Ao comprar um móvel de madeira certificada o consumidor está fazendo uma opção clara pela preservação de nossas florestas, bem como ao comprar carne com rastreabilidade está evitando o desmatamento de nossos biomas. Produtos isentos de pesticidas asseguram a saúde dos consumidores, bem como vasos sanitários bem projetados evitam desperdício de água. Os exemplos revelam claramente que as empresas realmente comprometidas podem ter um papel crucial na construção de uma cidadania planetária, desde que se engajem na busca de soluções para os problemas que vivemos. Um exemplo concreto de engajamento está nas redes de varejo que orientam seus departamentos de compra a construir com a sociedade civil critérios de sustentabilidade, sendo que a participação das ONG's é importante para conferir credibilidade nesses processos.