Análise do desempenho macro-econômico

Análise do desempenho macro-econômico

Kátya Desessards

O último mês trouxe poucas novidades sobre o desempenho e, conseqüentemente, sobre as perspectivas da economia brasileira para o curto prazo. Com isso, o cenário básico continua apresentando perspectivas mornas. Resumidamente, indicam para o ano um PIB de 1,8% e uma inflação um pouco acima do teto da meta.

Mas houve mudanças marginais. A mais importante, que tem a ver com o passado do que com o presente (e futuro), foi a divulgação dos resultados da nova Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física do IBGE (PIM-PF), que agora incorpora novos produtos, novas ponderações e novos locais de coleta. A nova PIM reviu para cima o crescimento industrial em 2013: a taxa de crescimento da Indústria de Transformação simplesmente dobrou (de 1,5% para 3,0%) e a da Extrativa, embora continuasse negativa, ficou ligeiramente melhor: – 3,6%, ante – 4,1%.

O desempenho de todas as categorias de uso melhorou na versão revista, exceto a de bens de capital, que piorou. Evidentemente, isso indica que a formação bruta de capital fixo no ano passado cresceu menos do que se estimava em 2013. De quanto, só se saberá no final deste mês, quando da divulgação das Contas Nacionais referentes ao primeiro trimestre deste ano e à revisão de 2013.

No entanto, apesar da revisão para cima de 2013, o desempenho industrial no primeiro trimestre deste ano não foi animador, por conta da queda de 0,4% na produção da Indústria Geral. O pior é que as perspectivas para o nível de atividade nos meses à frente também não animam. A confiança empresarial adentrou o segundo trimestre em ritmo lento e, talvez pior do que isso, as perspectivas de investimento para este ano também pioraram. Não será surpresa se a Formação Bruta de Capital Fixo recuar em 2014, cancelando parte da recuperação de 2013.

Por outro lado, também não há sinal de piora do quadro vigente. Os resultados da PNAD Contínua, por exemplo, mostram que fora das Regiões Metropolitanas (RMs) o mercado de trabalho é mais estável, ainda que a taxa de desemprego seja mais alta que nas RMs. A renda continua em alta desde o final do ano passado. Até quando? Essa é uma questão em aberto, para a qual não se arrisca resposta.

Apesar da desaceleração esperada dos preços dos alimentos no futuro próximo, a inflação segue pressionada e não se descarta que ela exceda o teto da banda de tolerância ainda neste trimestre. O comportamento dos preços dos serviços “livres” está por trás na forte resistência à baixa das taxas anuais do IPCA. E o dos “administrados” por trás da resistência à alta.

Isso, apesar das elevações recentes da Selic. Para a próxima reunião do Copom, aliás, as dúvidas abundam. Nosso analista avalia, reafirmando análise do Boletim anterior, que, se na próxima reunião o BC optar por interromper o processo de alta do juro, o ciclo de alta precisará ser retomado mais tarde, quiçá com mais força.

O cenário fiscal também não melhorou muito — apesar do aumento da arrecadação no primeiro trimestre e do fato de as despesas apresentarem sinais positivos —, tudo isso contribuindo para que o resultado primário de 1,0% para o governo central seja alcançado.

“Há a especulação, a partir desse resultado, de se alcançar um superávit primário do setor público consolidado de 1,3% do PIB é tarefa que está nas mãos dos estados e municípios. As contas dessas entidades no primeiro trimestre apontam para essa estimativa, apesar de ser este um ano eleitoral. Por outro lado, as estimativas de que a meta cheia de 1,9% venha a ser alcançada têm sido encaradas com ceticismo por boa parte dos analistas do segmento fiscal”.

As contas externas, por sua vez, seguem em trajetória preocupante. Em boa medida, mas não unicamente, isso se deve às transações envolvendo o petróleo e seus derivados (cujos resultados, aliás, melhoraram com os dados de abril). Mas as exportações para a Argentina têm sido inferiores ao que se esperava há até bem pouco tempo atrás e, se bem que as importações também estejam contidas, como resultado do lento ritmo da economia e da desvalorização cambial, não é improvável que, no ano, o saldo comercial seja negativo ou, se positivo, pequeno.

As transações correntes, por sua vez, não têm dado alívio, indicando déficits da ordem de 4% no ano como um todo. Dados os saldos esperados da conta capital, isso pode significar que o financiamento do balanço de pagamentos vai exigir outra vez o uso das reservas internacionais.  

(Fontes de pesquisa: Assessoria de Imprensa do IBGE, Banco Central e da FGV/IBRE)