Edição Especial - nº 004 | Ano I

Reportagem especial
Kátya Desessards, editora-chefe

São Paulo/SP
Vila Olímpia vira sonho de consumo dos próprios shoppings
A condenação a 94 anos e meio de prisão por importação fraudulenta de produtos está longe de ser o único problema para Eliana Tranchesi, a dona da Daslu
Considerada um dos maiores templos do luxo no país, a Daslu terá de enfrentar a partir dos próximos meses uma concorrência feroz pelos consumidores endinheirados.
Até 2010, a inauguração de dois shopping centers e a ampliação de um terceiro empreendimento devem transformar a região da Vila Olímpia, onde está a Daslu, em uma espécie de "Boca do Luxo" da cidade de São Paulo. Os três shoppings contarão com 504 novas lojas na região - ou cerca da metade do total de lojas que serão abertas em shoppings na capital paulista até o final do próximo ano. A Vila Olímpia, na zona sul da cidade, se tornou conhecida na última década por abrigar algumas das mais sofisticadas casas noturnas paulistanas. Mas a região não vive só de mauricinhos e patricinhas. A abertura de dezenas de edifícios comerciais permitiu que grandes empresas transferissem suas sedes e escritórios para o bairro. Até o início o século, os shoppings Iguatemi e Morumbi eram os que estavam mais bem posicionados para aproveitar o grande fluxo de pessoas abastadas entre o Itaim, a Vila Olímpia e o Morumbi. Esse "duopólio" começou a ruir nos últimos anos com a inauguração de novos empreendimentos, um processo que deve atingir seu ápice em 2010.Além da gigantesca loja da Daslu e do shopping Cidade Jardim, já em funcionamento, a Vila Olímpia em breve ganhará outros dois empreendimentos: o shopping Vila Olímpia, com inauguração prevista para novembro de 2009, e o JK Iguatemi, prometido para outubro de 2010. Já o shopping Cidade Jardim planeja abrir um novo piso com mais 60 lojas daqui a cinco meses. Apesar de cada um desses empreendimentos ter características distintas, é bastante provável que os shoppings acabem por disputar os mesmos consumidores. Segundo Luiz Fernando Veiga, diretor-executivo da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), em geral mais de 50% das pessoas que fazem compras em um shopping são moradoras ou freqüentadoras assíduas da região.

Visão de negócio ou saturação?
Isso não quer dizer que os novos shoppings vão necessariamente devorar uns aos outros - inviabilizando todos os negócios. Veiga, da Abrasce, afirma que, antes de lançar um novo projeto, as empresas de shoppings já gastaram entre dois e três anos testando a demanda de lojistas e consumidores pelo empreendimento. Para ele, por ser um dos maiores pólos de crescimento de São Paulo, a atual aposta dos shoppings na Vila Olímpia pode ser comparada ao que ocorreu há alguns anos na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A região passou por um enorme boom imobiliário e atraiu milhares de famílias opulentas. E as empresas que perceberam esse movimento populacional antes - como a Multiplan, dona do BarraShopping - embolsaram enormes lucros.

Atualmente a tecnologia também ajuda as empresas de shoppings a detectar os novos bolsões de consumo. Ismael Rocha, professor e marketing para produtos de luxo da ESPM, diz que já existem programas de computador capazes de mostrar a quantidade e o perfil dos consumidores que frequentam cada espaço da cidade. Ele também lembra que, em muitos casos, os varejistas preferem ter os concorrentes próximos - por mais incoerente que isso possa parecer. Em uma cidade com as dimensões de São Paulo, é necessário que o consumidor saiba onde encontrar determinado produto. "É essa filosofia que está por trás da instalação de tantas lojas de instrumentos musicais na rua Teodoro Sampaio ou de lustres na rua da Consolação. Há mais de 40 ruas segmentadas no comércio de São Paulo", diz.No caso da Vila Olímpia, Ismael Rocha acredita que o shopping Iguatemi é que criou o charme da região. Seu sucesso, no entanto, despertou o interesse dos concorrentes. "Se você já sabe que há ali o espírito da compra por prazer, da busca pelo glamour, e isso é importante para o seu negócio, o melhor lugar para você estar é ao perto dali", diz o professor.

Especialistas ainda acreditam no sucesso dos shoppings da Vila Olímpia devido ao potencial de crescimento do setor como um todo e do mercado de luxo. Segundo Veiga, da Abrasce, o Brasil tem apenas 370 shoppings, enquanto nos Estados Unidos há cerca de 40 000 centros de compras. Além disso, Rocha, da ESPM, afirma que uma cidade média europeia como Bruxelas (Bélgica) tem um número de lojas de luxo maior do que São Paulo - apesar de não possuir mais consumidores de alta renda.

Veja as características dos principais shopping centers que vão elevar a concorrência na região da Vila Olímpia:

Shopping Vila Olímpia: Apesar de ser voltado para as classes A e B, esse empreendimento deve se diferenciar de seus vizinhos por não ter como principal foco o consumidor de luxo. Localizado na rua das Olimpíadas, o shopping quer, em primeiro lugar, atrair as pessoas que vivem e trabalham nas redondezas. É a mesma filosofia de outros shoppings paulistanos como o Higienópolis, por exemplo. Para Marcello Milman, analista de shoppings da corretora do Santander, o Vila Olímpia não deve ter dificuldade em atrair público durante os dias de semana devido ao grande número de escritórios comerciais na região. Sua dívida é se o shopping será capaz de fazer o mesmo sucesso aos sábados e domingos, quando o fluxo de veículos e pessoas é menor. O investimento total no Shopping Vila Olímpia é de 223,6 milhões de reais. O projeto terá uma participação de 30% da Multiplan (que já é dona do MorumbiShopping na região), de 30% do grupo Plaza e de 40% da Helfer (a empresa proprietária do terreno). A entrega das chaves está prevista para julho, com a inauguração para o público em novembro, quando se espera que a economia brasileira já tenha voltado a crescer. A crise, de qualquer forma, não deve ser um empecilho para o shopping, já que 76% de suas 204 lojas estão com os contratos de locação assinados. Além disso, o setor como um todo tem se mostrado bastante resistente à turbulência mundial. Segundo a Abrasce, apenas 2% das lojas de shoppings estão vagas atualmente, contra uma média histórica de cerca de 5%.

Shopping JK Iguatemi: Com inauguração prevista para outubro de 2010, o shopping JK Iguatemi não iniciou a assinatura dos contratos de locação de lojas porque ainda aguarda a liberação de todas as licenças de construção e funcionamento. A expectativa do mercado é que entre as suas 240 lojas estejam algumas das mais sofisticadas grifes de luxo do mundo. O shopping JK é uma parceria entre a empresa de shoppings Iguatemi e a construtora Wtorre, dona do terreno entre a marginal Pinheiros e a avenida Juscelino Kubitscheck onde também funciona a Daslu. Até agora só foram construídas as garagens no subsolo. A obra deve custar 180 milhões de reais.Para Milman, do Santander, o maior risco do shopping JK é que ele será inaugurado depois dos concorrentes em uma região já bem atendida. O próprio Iguatemi possui dois outros shoppings voltados para o público de alta renda a poucos quilômetros de distância do JK: o Iguatemi da avenida Faria Lima e o Market Place, no Morumbi. O shopping JK, no entanto, deve ter um foco maior no mercado de luxo e disputar consumidores - e também grifes - diretamente com a Daslu e o shopping Cidade Jardim. No Iguatemi da avenida Faria Lima, por exemplo, não haveria condições de enfrentar os concorrentes em igualdade de condições. Shopping mais antigo do Brasil, inaugurado em 1966, o Iguatemi possui lojas de grifes estelares, mas não conta com espaços vagos para a instalação de novas marcas de luxo. A opção de retirar as lojas de perfil mais popular também seria bastante complexa.Já para a WTorre, o shopping deverá ajudar a valorizar todo o complexo de edifícios que está sendo construído no local. Além da Daslu e do shopping JK, o empreendimento inclui a Torre São Paulo - antigo esqueleto do prédio da Eletropaulo, que já foi integralmente vendido para o Santander por 1,06 bilhão de reais - e outras duas torres comerciais. Todos os empreendimentos do complexo serão interligados, respeitando os limites de acesso do Santander ou da Daslu. Cerca de 15 mil pessoas deverão passar pelo empreendimento por dia.

Shopping Cidade Jardim: Planeja elevar o número de lojas de 120 para 180 com a inauguração de um novo piso, provavelmente em setembro. O espaço já está construído, mas a entrega das chaves ainda não foi feita. A JHSF, dona do empreendimento, diz que há 150 empresas interessadas em ocupar uma das 60 novas lojas. O shopping Cidade Jardim disputa o mercado de luxo com a Daslu e com o Iguatemi, mas busca se apresentar com uma imagem mais internacional e exclusiva. Localizado na marginal Pinheiros, o shopping praticamente só é acessível de carro. Não há praça de alimentação com redes de fast food, como é comum em ouros shoppings. O Cidade Jardim apostou na alta gastronomia de restaurantes sofisticados como o Nonno Ruggero do grupo Fasano.O empreendimento também buscou um aspecto mais comum em centros de compras nos Estados Unidos ou na Europa. Seu interior é aberto, arborizado e com luz natural. O shopping é o único do Brasil a possuir lojas de grifes como Giorgio Armani, Chanel, Hermès, Daslu e Rolex. Com menos de um ano de vida, o Cidade Jardim conseguiu conquistar o consumidor de produtos de luxo que se considera mais moderno - enquanto o cliente mais tradicional ainda prefere frequentar o Iguatemi. O shopping pertence à JHSF, uma tradicional incorporadora de imóveis de alto padrão. O próprio shopping faz parte da estratégia da JHSF de valorizar os demais imóveis que fazem parte do empreendimento. O terreno deverá abrigar mais três torres comerciais e nove residenciais, com apartamentos cotados em até 4 milhões de reais cada.

Daslu: Desde os tempos em que ocupava um conjunto de casas na Vila Nova Conceição, a loja de Eliana Tranchesi sempre teve como ponto forte o bom relacionamento entre funcionárias e donas com as clientes. As mulheres encontram espaços de maior intimidade e confiança em partes da loja onde não entram homens - e, por isso, não são necessários provadores. A loja conquistou consumidores entre o público de alta renda que está acostumado com o luxo e que faz questão de ser bem-recebido. Não é incomum encontrar clientes assíduas que viajam de outras cidades para comprar na butique. Especialistas dizem que não é possível avaliar qual será o impacto do aumento da concorrência para a Daslu enquanto não forem definidas quais lojas ainda vão se instalar nos shoppings Cidade Jardim e JK Iguatemi. Procurada, a Daslu não quis dar entrevista.Por estar localizado no mesmo terreno da marginal Pinheiros e por disputar o mesmo público, entretanto, o shopping JK Iguatemi tem potencial para tirar clientes da Daslu. Além disso, a Daslu ficou em uma posição fragilizada porque a WTorre, com quem possui o contrato de locação do imóvel onde está instalada, também é sócia de seu futuro concorrente, o shopping JK. Para piorar, a Daslu, que vinha se recuperando da crise de imagem gerada pela operação da Polícia Federal que levou a prisão temporária de Eliana Tranchesi em 2005, voltou em março a ser envolvida em imbróglios judiciais. Eliana poderá recorrer em liberdade da sentença de 94 anos e meio de prisão a que foi condenada, mas chegou a passar uma noite no presídio feminino do Carandiru, na zona norte de São Paulo. Para especialistas, acusações de crimes do colarinho branco, como a que atingiu a Daslu, costumam custar no mínimo 10% do faturamento anual das empresas. "O problema é que, nesses casos, a empresa é vista imediatamente como culpada", diz Mário Rosa, consultor de imagem e autor de dois livros sobre o assunto. Considerando os tempos difíceis que se anunciam pela frente, os desdobramentos do escândalo envolvendo a Daslu não poderiam vir em pior hora.

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