Edição Especial

Sem liberdade de imprensa não há política livre

“A liberdade política e a liberdade de imprensa são irmãs xipófagas. Uma depende da outra para viver. Onde não existe imprensa livre, não existe parlamento livre. E vice-versa.” Estas palavras de meu pai, Nelson Marchezan, resumem a importância que uma imprensa livre tem para os alicerces da democracia.

Aqui no Brasil, apesar das muitas vitórias da democracia, de tempos em tempos, surgem propostas de controle externo, embaladas das mais diferentes maneiras, mas sempre com o mesmo objetivo: censurar o trabalho dos meios de comunicação e calar os jornalistas.

O primeiro jornal ‘oficial’ brasileiro já nasceu com este ‘vício’ de origem. A Gazeta do Rio de Janeiro começou a circular em 10 de setembro de 1808 e era editada pela chamada “Imprensa Régia”, fundada pelo regente do Brasil à época, Dom João VI, e dirigida pelo Frade Tibúrcio Rocha. A Gazeta defendia os ideais imperiais e as teses que agradavam à Coroa Portuguesa. Foi criada como uma resposta ao primeiro jornal independente brasileiro, fundado três meses antes, do outro lado do Atlântico.

O primeiro jornal a circular no Brasil, embora feito fora dele, foi o Correio Braziliense, ou Armazém Literário, publicado, a partir de 1808, pelo maçom Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, cognominado "o Patriarca da Imprensa Brasileira". O Correio Braziliense não foi apenas o primeiro órgão da imprensa brasileira, mas, principalmente, o mais completo veículo de informação e análise da situação política e social de Portugal e do Brasil, à época, com a defesa de uma verdadeira reforma de base para o nosso país, batendo-se pela necessidade de construção de uma rede de estradas, pela utilização de matérias-primas na fabricação de manufaturas, propiciando a formação e a expansão do mercado interno, pela abolição da escravatura, pela transferência da capital para o interior e pela adoção de uma política imigratória que aproveitasse, de preferência, artesãos e técnicos.

Hoje, os veículos de comunicação de todo o Estado e do País e os jornalistas reverenciam a liberdade, através da informação real dos fatos, sem censura. É a liberdade que permite que todos os dias os feitos e defeitos do Brasil e do mundo cheguem até nós. É só assim que podemos vibrar e nos emocionar com os triunfos nos gramados ou nas pistas. Com o choro da mãe desamparada pela bala perdida que lhe roubou o filho. Com as idas e vindas de nossa classe política. E juntar tudo no hino cantado a olhos marejados, após a eleição democrática de um novo governante. “Pátria amada, mãe gentil”.

A liberdade de comunicação vem movendo os sonhos de homens e de mulheres de todas as épocas, através dos tempos. Todos a querem por seus prêmios. Poucos a querem por seus custos. No mundo temos visto ressurgir, perigosamente, resquícios de um autoritarismo que coloca em risco os ideais de liberdade – como na Venezuela, China, Coréia do Sul, Cuba, Irã, Iraque, dentre outros.

Até então, o Brasil estava fora dessa prática odiosa. Mas para nossa surpresa, no dia 24 de setembro, 85 veículos de imprensa foram proibidos de publicar ou noticiar qualquer informação relacionada ao governador do Tocantins e candidato a reeleição Carlos Gaguim, a um suposto esquema de fraudes em licitações. Numa clara manobra para beneficiar os aliados do Governo Federal. Tudo muito ‘democrático’ e ‘republicano’, como hipocritamente dizem os defensores de ditadores como Hugo Chavez, Fidel Castro, Roh Moo-hyun (presidente da Coréia do Sul) ou Mahmoud Ahmadinejad, do Irã. Em alguns casos, ser escravo ou ser livre não é opção. Mas nunca pode ser considerado como destino. A liberdade exige esforço, sacrifícios. Para nos tornarmos escravos, basta que nada façamos. Sábias as palavras do norte-americano John Milton: “… acima de todas as liberdades, dê-me a de saber, dê-me a de expressar, de debater com autonomia, de acordo com minha consciência”. Não existe liberdade sem consciência. Assim como não existe consciência sem informação.

Quando as nossas principais empresas de comunicação no País e do Rio Grande do Sul iniciaram suas atividades, quase dois séculos atrás, o papel, a tinta e a coragem eram suas únicas armas. Hoje, as coisas mudaram. Comunicação não é mais sinônimo apenas de imprensa escrita. O jornalismo invadiu primeiro o espaço, com as ondas de rádio e televisão, e agora o ciberespaço, com a internet e as informações em tempo real.

Um país sem imprensa livre é um país cego. Um país de idéias falsas e sentimentos pervertidos. Um país que, explorado na sua consciência, não poderá lutar contra os vícios que lhe exploram as instituições.

Não deixemos, nunca mais, que isso de novo aconteça com o Brasil. Sejamos todos capazes de cumprir os nossos deveres, manter nossa sociedade informada e, dessa forma, a imprensa livre. Para a sobrevivência da Democracia e dos direitos individuais de cada cidadão. Sem liberdade de imprensa não há política livre.

(Fonte: Nelson Marchezan Junior - Advogado e deputado estadual do RS Candidato a DEPUTADO FEDERAL - 4545)